Nós, brasileiros, herdamos um monte de superstições. Dos índios. Dos negros escravizados. Dos europeus. Juramos que há plantas que produzem maus fluidos. Outras que chamam fortuna. Já vi gente com galhinho de arruda na orelha. Espanta coisas agourentas, cara! Três pancadas na madeira fazem o mesmo. Na Idade Média, sofria quem fizesse uso permanente da mão esquerda. A Inquisição ficava de olho. As fogueiras ardiam suspeitas. O infeliz certamente estava possuído pelo “Canhoto”. Perceberam como os jogadores entram em campo? Pisando com o pé direito. Quem quer se contundir ou levar uma goleada?!
Mas há superstições oriundas de pura malandragem. No nascente Brasil, os senhores de engenho notavam que os escravos roubavam leite para dar aos filhos. Desaforo! O produto deveria ser destinado aos robustos guris da Casa Grande e não aos negrinhos melequentos das senzalas! Chicote não estava resolvendo. Daí veio a grande ideia: os mangueirais abundavam no Nordeste, e os escravizados, dos mais velhos até as criancinhas, complementavam a comida ruim chupando os frutos o dia inteiro. Então os senhores inventaram que misturar manga com leite fazia mal à saúde. Matava! Isso nos conta Gilberto Freyre no livro “Casa Grande e Senzala”. Sem tronco nem chibata, o leite começou a sobrar.
Isso faz lembrar piada que nossa mãe nos contou. Narrou-nos D. Adélia que, num trem abarrotado de passageiros, certa jovem amamentava o filho, o seio descoberto. Ao lado, indiscreto cidadão esticava o olho. A mãezinha foi ficando incomodada com a grossura do indecente passageiro e não mais se conteve. Escrachada que era, puxou o bebê da fonte e berrou, alto e bom som, para todos os presentes ouvirem:
- Tá querendo mamar também, seu tarado sem vergonha?
O homem levantou-se impávido, todo nobreza, mão no peito:
- Agradeço, minha senhora. Infelizmente hoje já chupei manga.