Luiz Alves
Criticar é avaliar com competência. Sem essa de critica positiva ou negativa. Crítica é crítica e ponto final. Sem bajulação. Sem maledicência.
Mas há críticos que se equivocam. Certo Sílvio Romero, famoso crítico literário do tempo do Machado de Assis, afirmou que o seu livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas” era uma droga. Não era. É uma obra-prima. Houve também uns críticos bestas que massacraram o Pelé pelo fato de o atleta não se posicionar publicamente ante o problema da segregação racial. Ora, um gol daquele Rei Negro valia por mil discursos antirracistas.
Já palpite é “eu acho”. Desconfiável. Tive um amigo palpiteiro. Tipo meio rude, prático, engraçado e... convincente. Eu o esperava para sairmos a apreciar as menininhas sabarenses. Faz tempão, bicho! Ele chegou quando eu folheava um livro de trovas. Trovas? Que raio é isso?
- É um tipo bem legal de poema. O poeta tem que resumir sua ideia em única estrofe de quatro versos, ritmo definido, rimas alternadas e vai por aí. O cara tem que ser bom. Escute esta. É trova das mais conhecidas.
“Eu vi minha mãe rezando
Aos pés da Virgem Maria.
Era uma santa escutando
O que a outra dizia.”
Ele ouvia, compenetrado. Li trovas sobre amores sublimes, loucas paixões, trágicos ciúmes. Deliciava-me. Fechei o livro à espera de sua reação. Ele refletiu um pouco. Após, olhando-me desconfiado, perguntou:
- Isso aí - apontou com desprezo o livro - não é coisa de bicha?
Fraquejei, nobre leitor. Rendi-me ao infame palpite daquele canalha. Às traças e às trevas, trovas inúteis! Rosnei machismos, afiei as garras, e partimos para a selvagem caçada às gostosas moçoilas da nossa terrinha dos anos idos e vividos. A poesia? Ficou esperando lá na gaveta.