O padre Gustavo Gutiérrez, considerado o pai da Teologia da Libertação, faleceu na noite desta terça-feira (23), aos 96 anos. A Ordem Dominicana do Peru, à qual o sacerdote pertencia, confirmou a notícia por meio das redes sociais, destacando que ele “partiu para a casa do Pai”. O sepultamento ocorrerá no convento de Santo Domingo, em Lima, uma edificação histórica do século XVI.
Gutiérrez, doutor em Teologia pela Universidade Católica de Lyon, publicou em 1971 a obra “Teologia da Libertação. Perspectivas”, um marco na teologia contemporânea. O livro propôs uma interpretação da fé centrada na justiça social e na defesa dos pobres, consolidando uma visão que desafiava a desigualdade social na América Latina.
Em seu pensamento, Gutiérrez defendia que a pobreza é um atentado à dignidade humana, afirmando que tal condição é contrária à vontade divina. Seu trabalho inspirou diversas gerações de religiosos e ativistas em busca de uma Igreja comprometida com a transformação social.
O pensamento de Gutiérrez atraiu tanto aplausos quanto críticas. Na década de 1980, o então cardeal Joseph Ratzinger, futuro Papa Bento XVI, à frente da Congregação para a Doutrina da Fé, expressou preocupações com a influência do marxismo em algumas interpretações da Teologia da Libertação. No entanto, Ratzinger também elogiou o foco do movimento na justiça social e na atenção aos mais vulneráveis.
Gutiérrez e seus seguidores sempre enfatizaram que a Teologia da Libertação estava em harmonia com a doutrina social da Igreja, especialmente na defesa dos pobres. O próprio Gutiérrez trabalhou por mais de 20 anos em uma paróquia de um bairro popular de Lima, evidenciando seu compromisso prático com as comunidades marginalizadas.
Ao completar 90 anos em 2018, Gutiérrez recebeu um agradecimento do Papa Francisco, que destacou seu "amor preferencial pelos pobres e descartados da sociedade". Em outra ocasião, em 2014, o teólogo foi ovacionado durante a apresentação no Vaticano do livro "Pobres para os Pobres. A Missão da Igreja", escrito pelo Cardeal Gerhard Müller. O prefácio da obra foi escrito pelo próprio Papa Francisco, reforçando a sintonia entre a Teologia da Libertação e os princípios do pontífice argentino.
Durante as décadas de 1960 e 1970, a Teologia da Libertação de Gutiérrez ganhou força entre católicos indignados com as ditaduras e a desigualdade social na América Latina. Seu pensamento foi essencial para mobilizar movimentos sociais e religiosos em defesa dos direitos humanos e da justiça social, especialmente em países em crise política.
Gutiérrez deixa um legado que transcende fronteiras, sendo uma referência não apenas para teólogos e líderes religiosos, mas também para ativistas sociais em todo o mundo.
A morte de Gustavo Gutiérrez representa uma grande perda para a Igreja e para os defensores de uma fé comprometida com a transformação social. Seu legado continuará vivo nas comunidades que seguem sua visão e nos debates que ele inspirou em toda a Igreja Católica e além.
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