Luiz Alves
Funica seria o Administrador Regional de Ravena. Lugar de suas origens, construtor competente, chefão da banda Lira da Paz, ele se sairia bem na sua Ravena, onde era amado e respeitado. Não deu outra. Nota 10.
Nosso amigo João Campanha, grande administrador da regional de General Carneiro, a mais complicada de todas que criamos, cometeu a indelicadeza de falecer. Quem poderia substituí-lo? Quem sabe o Funica? Ele aceitou. A cada mês, reuniam-se, prefeito e administradores, para avaliar o trabalho de cada regional. Oportunidade para troca de experiências e socorros mútuos.
- Como é, Funica? Com vai sua explosiva regional?
Apenas dizia que ia bem. Que tranquilidade era aquela? Ele administrava um caldeirão! Acabamos descobrindo seu segredo. Ele seguia o preceito bíblico: sim, sim; não, não. Isso a prefeitura pode fazer; isso não tem jeito. Do mesmo modo pautava sua rica existência em tudo quanto fazia. Agia com objetividade, sem estardalhaços, com a serena humildade dos sábios.
Os sabarenses muito lhe devemos. Iniciou vários na arte musical. Sua clarineta alegrava as ruas na banda e acariciava nossos ouvidos nas serestas. E as marchas e dobrados que compôs? Empobrecidos, víamos o caixão, em meio a eloquente silêncio, desaparecer nas velhas muralhas do cemitério do Carmo.
Ouvi opiniões de amigos durante seu velório e sepultamento. Antônio Bárbara me disse que o Funica era um engraçado sério. Verdade. Sempre ríamos das coisas engraçadas que o Funica nos dizia ou das cômicas ações que protagonizava. Tudo com seu jeitão sério de ser. Clever, olhos lacrimejantes, afirmou que não tinha vontade de sair do histórico cemitério onde depositávamos seu corpo. Difícil abandonar aquela paz silenciosa que nos inspirava tantas e fundas reflexões.
- O Funica não vai para a sepultura, meditei. Ele está sendo entronizado. Os romanos, quando se despediam de seus imperadores, faziam a cerimônia da apoteose, quando os elevavam à categoria de deuses. Exagero? Sim, exagero dos romanos. Como endeusar Nero ou Calígula? Mas inclinemo-nos diante da apoteose do Funica. Essa, de fato, merecida. Nós não o sepultamos. Ali nós entronizávamos, no altar das melhores instituições sabarenses, uma figura apoteótica.
Ave, Grande Funica.
Os sabarenses te saudamos!