Há várias maneiras de alguém se destacar nesse mundão besta. Habilidade nos esportes, inteligência, beleza, velhacaria, riqueza, malandragem são alguns requisitos. Mas o esperto Zé de Candu reinava era no humor. Seresteiro e pescador, virou folclore sabarense. Há mil causos sobre essa grande figura. Causo de pescador, então, nem se fala.
Aqui vai um. Voltando das pescarias no outrora piscoso – hora de consultar o dicionário – Rio das Velhas, sempre passava pela casa de antiga comadre. Pedia que ela fritasse alguns dos peixes que conseguira, tomava café, lambiscava uma cachacinha, comiam, e tome prosa...
- Hoje só pesquei essas piabinhas ordinárias. Decepção danada. Mas ainda fisgo um dourado. Vai preparando a panela, comadre!
Não é que o Zé de Candu um dia fisgou mesmo um belo dourado? Pensou na promessa. Sabe como é, promessas existem para serem descumpri-las. Ele olhou bem o peixe e... decidiu dar o cano na amiga! Botou o bichão no embornal, driblou a consciência e foi filar o café e a pinga da pobrezinha. Chegou e escondeu a sacola com o dourado num cantinho da varanda da casa. Na cara dura, ainda choramingou:
- Pois é, comadre, hoje foi dia dos peixes. Fracasso total. Só dei banho nas minhocas. Não peguei nem maria sapuda.
- É assim mesmo, consolou a comadre. Amanhã a sorte vira.
Foi quando ouviram uma fuzarca medonha na varanda. Uns dez gatos se arranhavam em rosnante disputa pelo que sobrara do dourado. A amiga botou a mão na cintura e fuzilou com o olhar o aflito pescador. Mas Zé de Candu pensava rápido. Pegou um porrete e, aos gritos, saiu distribuindo furiosas pancadas na bichanada. Gato voava para todo lado.
- Xô, seus gatunos esfomeados. Olha o que fizeram, bandidos! Vocês estragaram a surpresa que eu tinha preparado pra minha comadre!
Mín. 12° Máx. 24°
Mín. 12° Máx. 27°
Tempo nubladoMín. 13° Máx. 29°
Parcialmente nublado