(Para Orlando, Luiz Sette, Niquinha, Miller, Naná e Dagmar)
Companheiraço, o Haroldo Guimarães. Dizem que era o rapaz mais bonito de Sabará na sua época. Com aqueles olhos verdes, não duvido. Grande praça, mas tinha posições bem definidas sobre certos assuntos. Nesse negócio de opção sexual, então, era radicalíssimo. Sem essa de politicamente correto! Com ele era pau, pau; pedra, pedra.
- Homem mesmo não bebe o mel: come a abelha. E eu sou é macho, cara. Detesto frescura. Aqui é Galo! e batia no peito alvinegro.
Preconceituoso? Sei lá. Era o jeitão dele. Já o vizinho, seu xará, jogava em time diferente. Digamos que não era tão radical nessas questões. Nós o chamávamos de Haroldinho. Se existisse no dicionário o verbete Haroldinho, lá encontraríamos: Gente Finíssima. Ele era isso.
Mas vamos ao caso. A residência do Haroldo e a do Haroldinho eram próximas, Um dia alguém bateu na porta errada. Era um moço mui delicado, sobrancelhas bem delineadas, trazendo nas mãos lindo arranjo de escolhidas rosas. Haroldo atendeu. Vozinha melosa o saudou:
- Olá, Haroldinho. Bom vê-lo belo e cheiroso, amor. Trago este mimo mandado por um ardoroso fã. Belas rosas para uma linda flor.
Haroldo empalideceu. Seus verdes olhos avermelharam-se de sangrenta indignação e ele berrou, a boca espumando susto e revolta:
- Olha aqui, seu coisinha, o Haroldinho mora ao lado. Este que vos fala é o Haroldaço. Haroldaço, ouviu? Quanto a essas flores, pode...
Não concluiu a frase. Impediu-o a refinada educação recebida desde o berço por Dona Lalá e Seu Oto. Bateu a porta e largou pra lá.
Hoje o Haroldaço está no céu, trocando prosa com São Longuinho, o protetor dos bem dotados, e São Jorge, o Santo Guerreiro da rígida lança e reluzente espada sempre ereta. Ficou-nos a saudade.
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