Diz o filósofo que o rosto é o espelho da alma. Já o povo retruca: quem vê cara não vê coração. Celinha Vieira desmentia o dito popular. Nela valia o dizer do filósofo, pois seu rostinho bonito e seus verdes olhos eram o espelho de uma alma de anjo.
Em nosso Morro da Intendência, convivi com ela e sua bela família. Formávamos uma irmandade de afetos. Éramos crianças, mal sabíamos das dores do mundo. Pra quê? Que os adultos se preocupassem com isso, bolas!
Então Celinha se fez adolescente e endoideceu a rapaziada. Um dia papeávamos. De repente, aproximou-se um dos mais babões de seus fãs e me encarou raivoso, o soco armado. A Célia pôs os pingos nos ii.
- Olha aqui, moço, o Luiz é do coração. Se eu tiver que escolher entre suas pretensões e a amizade dele, saiba que você vai perder de goleada.
Muito depois reencontrei a Célia. Ah, os tempos idos e vividos... Ruguinha de dúvida na testa, ela perguntou se fôramos só amigos ou namoradinhos.
- Só amigos, minha cara. Mais que isso minha timidez não permitia.
Um retrato. Nós dois, minha falecida esposa e seu finado marido. Tentei mostrar-lhe a foto. Em vão. A viuvez ainda doía e ela fechara-se em tristezas. Olho de novo a fotografia. Nós quatro. Só eu teimando em sobreviver.
Vejo agora a jovenzinha de outrora. Magia de amizades antigas, que impedem o tempo de agir com suas malvadezas em nosso corpo. As imagens de nossa juventude ficam paradas no ar, congelam-se, eternizam-se. Rodam-me na mente sua beleza, sua inteligência, os verdes olhos, a gentileza no trato com o próximo, a alegria de viver...
Quando eu me for, gostaria de deixar no coração das pessoas saudade parecida como a que sinto pela querida Célia. Descanse, garotinha.
Luiz Alves
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